Cristianismo Público Em Tempos De Privatização Da Fé

Por Valmir Nascimento

Compreender o cristianismo como uma visão de mundo abrangente implica também em tê-lo como um cristianismo público, que pode e deve ser exercido não somente na vida privada, mas também em todos os setores da sociedade.

Infelizmente, muitos cristãos ao aceitarem a dicotomia público/privado, fato/valor, acabam restringindo a expressão da fé somente ao âmbito particular, simplesmente como uma atividade devocional e “espiritual”, sem a capacidade de dialogar e influenciar a sociedade contemporânea.

A PERDA DA MENTE CRISTÃ

Por essa razão é que Harry Blamires [1], discípulo de C. S. Lewis, diz não existir mais uma mente cristã. Ele escreve que o cristão moderno sucumbiu à secularização e aceita a religião – a moralidade dela, seu culto, sua cultura espiritual; “mas ele rejeita a visão religiosa da vida, a visão que coloca todas as coisas aqui em baixo dentro do contexto do eterno, a visão que relaciona todos os problemas humanos – sociais, políticos e culturais, aos alicerces doutrinários da fé cristã, à visão que vê todas as coisas aqui em baixo em termos de supremacia de Deus e de transitoriedade da terra, em termos de céu e inferno”.

Blamires vai dizer ainda que a secularização mental dos cristãos foi ocasionada pela acomodação. Paramos de pensar de forma cristã. Retiramos a consciência cristã da vida pública, comercial e social e, quando entramos nessas esferas somos forçados a aceitar para fins de discussão, a estrutura secular ali estabelecida. E mais: “Oramos e cultuamos de forma cristã. Depois, esvaziamos nosso cérebro do vocabulário cristão, dos conceitos cristãos para garantir que nos comunicamos plenamente e voltamos a falar sobre política como o político, sobre bem-estar social como o assistente social, sobre relação no trabalho como o sindicalista. Assim, andamos mentalmente no secularismo. Treinamo-nos, até disciplinamo-nos para pensar de forma secular sobre algumas coisas seculares e – ironia das ironias – até conseguirmos nos persuadir de que não há nada mais cristão que ceder nessa matéria e aceitar o meio ambiente mental da outra pessoa”.

PRIVATIZAÇÃO DA FÉ

A crítica de Blamires ganha mais relevância no momento histórico em que estamos vivendo. Além da acomodação de uma grande parcela de cristãos, o discurso de privatização da fé por parte dos liberais e antiteístas tenta manter a todo custo a influência dos cristãos restrita ao âmbito da igreja. Como isso, os cristãos vão perdendo a legitimidade para falar sobre assuntos sociais, políticos e culturais. O resultando é criação de uma subcultura cristã, segregada e distante do debate social.

Por isso, é urgente a necessidade de resgatar a dimensão pública do Cristianismo, a fim de aplicar suas doutrinas fundamentais a todas as esferas da sociedade, tanto no âmbito público quanto privado, pois as Escrituras determinam que devemos levar cativo nada menos que todo o entendimento à obediência de Cristo (2 Coríntios 10:4-5).

Portanto, nada escapa do alcance do poder do evangelho (Rm 1.16). O Direito, a Economia, a Ciência, a Educação, a Filosofia, o Estado e as Artes, por exemplo, precisam ser vistas pelas lentes da Bíblia. E para que isso aconteça precisamos pensar em termos bíblicos. Necessitamos da mente de Cristo (1Co 2.16).

[1] BLAMIRES, Harry. A mente cristã: como um cristão deve pensar. [tradução: Hope Gordon Silva]. São Paulo: Shedd Publicações, 2006.
Valmir Nascimento é Editor do blog comoViveremos

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