Venda de benção?

Por Edvaldo Tomé
Publicado originalmente no O Globo

RIO - Em vídeo que circula pelas redes sociais, o pastor Marco Feliciano (PSC-SP), indicado para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, recolhe doações de fiéis da Assembleia de Deus, na Catedral do Avivamento, sua igreja. Feliciano aceita doações de motocicletas, pede cheques, dinheiro e anuncia recompensas divinas. Em determinado momento, com um cartão na mão, ele diz:

- É a última vez que eu falo. Samuel de Souza doou o cartão, mas não doou a senha. Aí não vale. Depois vai pedir o milagre pra Deus e Deus não vai dar e vai falar que Deus é ruim.
Logo em seguida, um fiel tetraplégico anuncia que vai doar R$ 1.000. O pastor, então, diz:

- Ele veio como murmurador. Vai voltar como o homem mais abençoado da festa. Eu ainda vou pregar com você por aí, garoto.

As cenas de recolhimento de dinheiro prosseguem. Marco Feliciano afirma que R$ 500 é o suficiente:

- Tem mais (dinheiro) aqui na frente? Glória a Jesus! - diz ele, pegando um cheque - Deixa eu ver o sobrenome dele? Feliz de Souza (risos). Mais um (cheque). Amém, amém. Tem gente que diz: 'Pastor, pastor, R$ 1.000 eu não aguento’. Traga R$ 500. Você só não pode é perder a benção. Quem crê dá um jeito.


Nota do Editor:

Eu como cristão estou triste e ao mesmo tempo revoltado com este vídeo. Tudo bem que o jornal O Globo aproveitou a indicação do nobre Deputado para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, o que contrariou as expectativas da maioria, e tratou de divulgar o vídeo para demonstrar (em um ato sensacionalista), as atitudes do Deputado enquanto pastor.

Contudo, deixando de lado a mídia, quero expressar minha opinião e indignação em relação as cenas que infelizmente presenciei ao assistir o vídeo. 

Não sei onde iremos parar... Lembro-me das palavras do apóstolo Pedro: "E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita." 2 Pedro 2:3 

Enfatizo que o episodio acima não se assemelha em nada com o Evangelho de Jesus Cristo. O sacrifício único e perfeito já foi realizado através da obra redentora de Cristo no calvário, não sendo mais necessários sacrifícios materiais para alcançarmos alguma coisa.

Este vídeo me faz lembrar as palavras de Salomão:  A sanguessuga tem duas filhas: e . Estas três coisas nunca se fartam; e com a quarta, nunca dizem: Basta! A sepultura; a madre estéril; a terra que não se farta de água; e o fogo; nunca dizem: Basta! Provérbios 30:15-16 (grifo nosso)

Comentando este versículo, Hermes C. Fernandes, traz as seguintes elucidações:

De acordo com Salomão, a sanguessuga é mãe de gêmeos homônimos. Suas crias são conhecidas com o sugestivo nome de “Dá”. Elas são comparadas à três coisas que nunca se fartam, e quatro que jamais dizem “basta”: a sepultura, a madre estéril, a terra que não se farta de água, e o fogo, que em sua fúria, jamais se sacia.

Dá e Dá são a “igreja”(com “i” minúsculo, mesmo) e as instituições públicas, que numa relação incestuosa, geram cada vez mais sanguessugas, ávidas de poder, fama e dinheiro. Talvez hoje, Salomão as chamasse de "Toma lá" e "Dá cá"

A sepultura é aquela que recebe o cadáver, e o decompõe. Não há excessão: todos os que nela são colocados se corrompem (nos dois sentidos). A sepultura é semelhante às filhas da sanguessuga.

No caso em questão, a sepultura é a igreja evangélica institucionalizada, que tornou-se o ambiente onde cadáveres vivos, verdadeiros zumbis, estão se decompondo em plena luz do dia. A ética é relativizada e flexibilizada de acordo com os mais excusos interesses. Engole-se camelos, enquanto mosquitos são cuidadosamente coados.

A madre estéril é a igreja que já não gera filhos, pois vive de adesões, e não mais de conversões. Dada a sua esterilidade, ela “adota” filhos, que às vésperas das eleições, forjam conversões, para conquistar os votos dos irmãos desavisados.

A terrapor sua vez, tem um incrível poder de absorção. Não importa o volume de água, ela sempre o absorve. Assim, a igreja evangélica vem absorvendo as práticas do mundo, sob o pretexto de contextualizar-se, tornando-se menos intransigente, e mais atraente aos olhos do mundo, principalmente dos poderosos.

O fogo voraz não pode ser detido. Por onde passa, deixa um lastro de destruição e prejuízo. Tal é o apetite das filhas da sanguessuga.

A atitude permeada pelo pastor, não condiz com as Sagradas Escrituras. A Igreja de Jesus é bem diferente da Sanguessuga e suas filhas (no caso específico, filho). Enquanto estas jamais dizem "basta", a genuína Igreja é a que declara em uníssono como Paulo: "A Tua Graça me basta!" 

Que Deus tenha misericórdia de nós.


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